terça-feira, 20 de julho de 2010

Insônia

Já passava das três da manhã, a jovem levanta da cama sem sono, pega o jarro d'água que está sobre a cabeceira, coloca um pouco de água no copo ao lado e bebe rapidamente. Liza se mudara para a pequena cidade do interior há pouco tempo, estava em fase de adaptação. Em algumas noites como essa, o sono lhe parecia fugir.

Ela passa as mãos pelo rosto e pelos cabelos, coloca o copo sobre a cabeceira novamente e continua sentada por alguns instantes, até que decide sentar-se em um sofá próximo à janela. As luzes do quarto estavam apagadas, mas as luzes da rua entravam através dos curtos espaços da janela, algumas frestas de luz lhe iluminavam o rosto, o pijama e as mãos. Liza coloca as pernas em cima do sofá e observa as frestas de luz em seu corpo. Os pensamentos começam a lhe invadir a mente. Ela pensava na cidade nova, nos vizinhos hospitaleiros, lembrou-se até de dona Isabel, que lhe trouxera um bolo como boas vindas, era uma senhorinha de sorriso largo e olhar humilde. Liza se lembrava do rosto dos jovens e dos assuntos deles, ela agora havia decidido ser outra pessoa, alguém bem melhor. Foi por isso que ela aceitou a mudança, por querer ser melhor.

Então as lembranças do passado começam a aparecer. Ela lembrava dos momentos difíceis, das brigas, dos erros, do sorriso malicioso das pessoas que lhe desejavam o mal. Lembrava vagamente da infância, da primavera em que o pai a ensinou a andar de bicicleta, mas esse pensamento era cortado com a lembraça de um dia no colégio quando algumas garotas riam dela. Ela agora sentia-se como uma criança que acredita estar cercada de monstros, as recordações que a assombravam. Ela fecha os olhos tentando esquecer, e o vento fresco da madrugada traz uma tranquilidade inexplicável. Tudo o que lhe passa na mente agora é a voz do amiguinho Felipe, que ela conheceu quando ambos tinham cinco anos. O dia no parque, o céu bem azul. Ela comia algodão doce, quando Felipe grita com entusiasmo: "- Liza, tem um monte de passarinhos no céu!" - Ela parecia não dar muita atenção, então o menino um pouco irritado, insistiu "- Liza, você já olhou pro céu?"
Essa última frase lhe ficara na memória. É o que ela sempre fazia quando precisava de calma: olhar para o céu.
Liza abriu os olhos, já estava mais calma, o sono começara a dar os primeiros sinais. De alguma forma, ela sabia que tudo ficaria bem. O sol logo nasceria, e provavelmente, uma nova Liza também.
- Já é tarde, é melhor ir dormir.