quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Memórias do que nunca aconteceu.


Nunca pensei em viver muito. Nunca me imaginei com mais de trinta anos porque sempre achei que a tendência era as coisas piorarem... Até te conhecer.
Com você eu viveria o tempo que fosse, veríamos os anos passando juntos, nos casaríamos ainda jovens e ficaríamos unidos até o fim. Com você eu construiria sonhos e nos divertiríamos das formas mais bizarras possíveis. Seriamos duas crianças grandes roubando carrinhos de supermercados. Talvez você me ensinasse a subir em árvores altas, talvez pudéssemos morar num trailer e viajaríamos o mundo com ele.
Eu te acordaria no meio da madrugada pra comprar sorvete e acordaríamos assistindo seriados bobos.
Eu te amaria a cada instante e te ver sorrir seria o único motivo da minha existência.
Um dia teríamos filhos, primeiro um menino, foi o que sempre planejamos. Você o ensinaria a ouvir Iron Maden e tocar piano, eu o ensinaria a ouvir Debussy e tocar guitarra. Sim, nossa vida seria um monte de contradições, mas seríamos felizes. Nosso filho iria pra escola aos cinco anos com uma camiseta do Ramones e eu faria aquele moicano no cabelinho liso dele enquanto você observaria a cena rindo com o olhar repleto de alegria.
E continuaríamos juntos.
Comendo besteiras nos finais de semana e falando da vida sem deixar tudo cair na rotina. Deitaríamos na calçada como antes, só nós dois pra ver as estrelas no céu. Eu te ouviria dizer que me ama. E eu te beijaria todos os dias como se fosse a primeira e a última vez. Lutaria pela vida com uma força sem igual, seria grata e até teria fé, porque o “NÓS” seria um milagre.
Envelheceríamos juntos e eu te chamaria de “velho rabugento” só pra te encher, porque tenho certeza que mesmo com cinqüenta e muitos anos, você ainda seria incrível. Eu te levaria café na cama e esperaríamos nossos filhos saírem de casa pra ligar o som bem alto. Se fizéssemos isso na presença deles, pensariam: “Que velhos malucos!”
Então, em 2061 tudo estaria bem. Estaríamos juntos, veríamos o cometa Halley no céu, abraçados, pensaríamos em fazer um pedido, mas no fim de tudo chegaríamos a uma única indagação: “Pedir o quê se já tivemos muito mais do que qualquer ser humano sonha em ter?”