quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Gotas no vidro.

Éramos eu, um ônibus cheio de estranhos e vários sonhos escorrendo como as gotas de chuva que escorriam pelo vidro. Chovia lá fora, as pessoas passavam depressa, como se toda a vida se resumisse a chegar mais cedo no trabalho, ou não perder o dia de faculdade... mas e ali, dentro daqueles corações? O que será que existia? Talvez houvessem planos frustrados e amores deixados de lado. Talvez a rotina fosse só fruto de corações covardes que se recusaram a lutar pela única coisa que daria às suas vidas algum sentido real. Meu corpo estava dentro daquele ônibus, mas meu coração há tempos já permanecia lá fora, longe... A vida não é justa, e ela não será justa até que o amor deixe de ser algo que só dá certo em filmes.
Então eu continuo pensando no nosso clichê tão bonito. Às vezes me pego vendo vestidos de noiva nas vitrines das lojas e acabo por achando graça daquele cisco de esperança que me alimenta dia após dia. As vezes eu olho as crianças correndo no parque, eu vejo os pais carregando os filhos nos ombros, eu vejo casais apaixonados sorrindo, mas eu sou só mais uma estranha no ônibus. Só mais uma estranha que chora silenciosamente sem nenhum motivo conhecido. Sem nenhuma razão que seja válida para os outros. Eu sou só mais uma sombra que observa a água na janela e que se atrevera a sonhar. Só mais alguém que se alimenta de um passado tão cheio de brilho e um futuro quase invisível. Só mais uma.