terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Rising

"- Para de me olhar!
- Você sabe que eu odeio isso.
- Odeia por quê?
- Porque eu tenho vergonha, você sabe.
- Para de ser boba, então. Tô te vendo sorrir.
- Não, você tá me vendo ficar vermelha. Para, olha pra lá!"
E você ria. Depois me dizia de novo baixinho "eu amo o seu sorriso" e eu me questionava a razão porque sempre tentei sorrir de mil formas diferentes no espelho e nunca gostei de nenhuma delas. Como se nenhum sorriso me servisse. Eu não sabia sorrir. E por um bom tempo acreditei não ter sido feita pra sorrir. Mas você veio com esse papo de gostar do jeito que eu sorria... e era um jeito específico que eu não sei fazer "do nada". É um sorriso que só você sabia tirar de mim. Aquele que imediatamente você exclamava "esse! É esse o sorriso que eu amo! O meu sorriso favorito!"
Por que diabos você fez essas coisas? Por que o clichê todo? Pra quê essa coisa de se apaixonar e tudo mais? Estávamos confortáveis onde estávamos e lá no fundo sabíamos que com um pouco de conversa poderíamos ter seguido a vida sem isso de... romance.
Por favor, não me pergunta agora se eu me arrependo. Eu mal consigo pensar. Meus dias se resumem a uma sequência de lembranças. Estou saudosa. Nostálgica e triste.
Sei que odeia quando sou rude ou falo palavrão, mas sinceramente, o amor é um caralho. O amor, a paixão, a porra toda. Porque eu não estou falando só do que queima no início, não falo só do êxtase - que eu queria viver pra sempre - nem do tesão louco do início. Não tô falando da veneração e do respeito super aumentado que um tem pelo outro na primeira semana. Não me refiro só a paixão (que também é um caralho), me refiro ao amor também. A essa coisa que teoricamente é linda e fica depois que a chama queima. O amor dói. O amor é pó, é cinza. O amor "tudo sofre". E como sofre! Puta que pariu. Quando o profeta escreveu que o amor tudo sofre, me pergunto se mesmo ele conseguia sentir isso em plenos pulmões, porque hoje eu consigo.
O amor é o que te faz calar a boca tendo razão pra não deixar o outro pior porque ele teve um dia de merda, ainda que as palavras dele já tenham te machucado a semana inteira. E o amor consegue ser tão merda a ponto de te deixar perdida. A ponto de não saber se ainda ama, se odeia, se quer se afastar ou se precisa dele ali mais que tudo.
Só essa semana você já subiu o tom comigo umas seis vezes. (isso se eu contar só as mais sérias)
Só que eu estou aqui, as sete e meia da manhã de um sábado sem sequer ter certeza de ter dormido - inclusive porque preferi passar a noite com você - lembrando do começo. Lembrando da primeira semana. Lembrando da primeira vez que eu olhei pros teus olhos e pensei "agora eu posso dizer o quanto eles são lindos sem medo". Eu tô aqui, dividida entre pensar nas nossas brigas, nas centenas de vezes que eu falo contigo e você não dá atenção e desvia o olhar... paralelo a isso, suas mãos encontram as minhas pela primeira vez perto do metrô. Você beija o canto da minha boca. Eu fico sem reação. E de repente o tempo passa. As semanas voam. Estamos deitados em um colchão qualquer depois de uma crise de choro minha, abraçadinhos numa noite fria, assistindo desenho.
E então nós choramos e comemoramos juntos tantas coisas. E gastamos madrugadas inteiras que nenhum de nós nunca vai saber descrever direito. Éramos tão um do outro, de todas as formas.
O amor é uma droga.
E é uma droga porque dói.
É uma droga porque a gente nunca sabe ao certo onde erra e quando acha que sabe, descobre que não era bem ali também e jura pra si mesmo que é meio tarde pra voltar atrás e por isso nunca muda, então por não mudar, tudo desaba pra sempre.
É uma droga porque desde que notei que te amava, nunca mais parei de chorar.
É uma droga porque estou chorando agora. Porque fechei os olhos e lembrei das suas palavras antes de desligar o telefone. "Eu te amo, lobinha."
O amor é uma droga.
Amar você é uma droga.
Nós somos uma droga.
eu odeio você.
Com
Todas
As
Minhas
Forças
eu odeio você